Artigo 01 – 14 de julho de 2025, Santa Cruz / PB - Brasil
Assunto:
Nepotismo religioso dentro das igrejas evangélicas
Autor: Jefferson Guilhermino de Sousa
Sobre o autor: Jefferson Guilhermino de Sousa, 32 anos, presbítero, atua como pastor na Missão Evangélica Pentecostal do Brasil no sertão Paraibano. É casado com Suênia Soares e pai de Matias, de apenas 1 ano de idade. Está no campo missionário com sua família a pouco mais de 2 anos, cursa seminário teológico (finalizando) e é autor e escritor dos conteúdos do blog A fé evangélica (afeevangelica.blogspot.com).
Texto base: 1 Timóteo 5.21-22 Ordeno solenemente, na presença de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos que você obedeça a estas instruções sem tomar partido nem demonstrar favoritismo. Não se apresse em nomear um líder. Não participe dos pecados alheios. Mantenha-se puro. (NVT)
Frase: A Igreja tem muitos inimigos, não posso manter a minha espada na bainha.
INTRODUÇÃO
Nesse pequeno artigo sobre o “nepotismo religioso”,
trataremos especificamente sobre o Nepotismo Religioso dentro das Igrejas
Evangélicas, visto que essa é a área de atuação e interesse do autor do artigo.
Meu objetivo é que muitos possam abrir os olhos, conhecer a verdade
libertadora, buscar e servir ao Senhor em espírito e em verdade, e ajudar a
Igreja a se libertar dos erros e pecados internos. Que o Espírito Santo de Deus
nos dê ousadia e graça para termos o mesmo zelo pela casa do Senhor como Cristo
teve (Salmos 69.9 e João 2.13-17).
NEPOTISMO
Nepotismo, o que é?
O nepotismo acontece quando uma pessoa que exerce algum
tipo de cargo de autoridade favorece um familiar ou amigo próximo contratando-o
ou nomeando-o em detrimento de alguém mais qualificado. Essa prática é
considerada ilegal e inconstitucional, pois viola princípios da impessoalidade,
moralidade e igualdade na administração pública. E isso pode acontecer em
várias áreas, como: Negócios, política, academia, entretenimento, esportes,
saúde e inclusive na religião.
Nepotismo religioso
O nepotismo religioso acontece quando um líder eclesiástico
favorece ou promove parentes ou amigos mais próximos dentro da instituição
religiosa em que ele exerce autoridade ou influência. Diferente do nepotismo
dentro de instituições públicas, o nepotismo na esfera religiosa não é
considerada ilegal, mas, ela pode ser considerada antiética e prejudicial à
moralidade da instituição.
Como acontece e quando podemos enxergar claramente o
nepotismo religioso dentro das igrejas evangélicas?
O nepotismo religioso dentro das igrejas evangélicas têm
crescido muito, tanto em igrejas pequenas quanto e principalmente em grandes e
megas igrejas, sejam elas de ramificação tradicional, pentecostal ou neo
pentecostal. Esse tipo de prática acontece quando um líder religioso que
preside aquela instituição, seja ele um “apóstolo”, bispo, pastor, presbítero
ou qualquer outro tipo de cargo em que ele exerça poder e influência, nomeia ou
consagra um parente ou amigo próximo a um cargo. E isso é claramente enxergado
quando observamos uma instituição religiosa cuja administração contém a esposa,
os filhos, os netos, os sobrinhos e outros tipos de parentes daquele que a
preside.
Um dos principais motivos dos líderes evangélicos estarem
aderindo a essa prática é a consolidação do seu poder e influência sobre aquela
instituição religiosa e principalmente sobre os seus membros. Infelizmente, as
igrejas se tornaram “instituições religiosas” e em alguns casos foram
transformadas em empresas, no que se refere à forma de como são administradas.
Outro fator que não se pode negar é o poderio econômico e a influência que os
seus líderes exercem sobre as pessoas, há um grande fluxo de dinheiro entrando
e saindo dentro das igrejas, e aqueles que a presidem controlam o dinheiro e
influenciam as pessoas que lá estão. Isso gera no coração do líder eclesiástico
uma sensação de poder e autoridade, uma tentação difícil de lidar, que tem
corrompido muitos líderes evangélicos, levando-os à ruína, e principalmente a
se desviarem dos propósitos de Deus.
Esses motivos são motivos suficientes para que os líderes
que presidem essas instituições tentem consolidar seu poder e influência,
nomeando ou “consagrando” seus parentes ou pessoas de sua confiança para cargos
na igreja. Isso é facilmente perceptível, principalmente em grandes e megas
igrejas.
Como isso tem afetado negativamente as igrejas
evangélicas?
Disputas por poder, brigas entre famílias, medo de perder
o cargo, o ótimo salário, as riquezas, a influência sobre as pessoas, a fama.
Tudo isso são consequências de tal prática dentro das igrejas evangélicas,
causando tristeza, vergonha, dor, e principalmente escândalos. Nesses últimos
tempos a igreja brasileira vem sofrendo um grande desgaste na população, por
vários motivos, e o nepotismo religioso é um deles.
Por causa dessas práticas o nome de Jesus tem sido
envergonhado, a igreja descredibilizada, e os cristãos sofrem, vítimas de
pessoas gananciosas e egoístas. Isso tem tirado a igreja do caminho que Cristo
traçou para ela, levando-a para onde ela não deve estar. Podemos observar
dentro das igrejas evangélicas, líderes que se sentem ameaçados de perder seu
cargo e seu salário ministerial por alguém que se destaque no ministério,
passando a persegui-los. Colocando em cargos e trazendo para perto de si
pessoas que elas consigam “influenciar”, das quais elas não se sentirão
ameaçadas ministerialmente. E por consequência disso, aqueles que são
qualificados e vocacionados ministerialmente sofrem, gerando tristeza,
esfriamento espiritual e quando não, desistem de trilhar o caminho ministerial.
Outro fator a ser observado é a nomeação ou consagração
por conveniência. O problema não é consagrar familiares ou pessoas próximas
para um determinado ofício, mas sim, o motivo por trás dessa atitude. Se a
pessoa está sendo nomeada ou consagrada por ser “qualificada” e ter um chamado
vocacional evidenciado e aprovado pela igreja, é bíblico e não há problemas
nisso. Agora, se a nomeação ou consagração acontece simplesmente pelo fato da
pessoa ser parente ou amigo “próximo” do líder eclesiástico, sem nenhuma
evidência vocacional e reconhecimento ou aprovação da igreja, isso sim é um
erro que deve ser combatido.
Tais práticas são negativas para a saúde espiritual da
igreja de Cristo. Isso gera injustiça, desigualdade, desconfiança na liderança,
descredibilidade na igreja, é antiético, gera desgaste, conflitos, divisões,
disputas, injustiças; coloca o homem no centro e como cabeça da igreja,
entristece o Espírito Santo, vai contra os ensinamentos bíblicos e abre brechas
para o pecado.
O que a Bíblia fala sobre isso?
Na Bíblia temos alguns exemplos de nomeação e consagração
passados de pai para filho. Começando pelo Antigo Testamento, temos o exemplo do
sacerdócio, que era passado de pai para filho. Arão e seus filhos foram
chamados por Deus para servirem como sacerdotes diante do Senhor (Êxodo 28.1).
O exemplo de fé e obediência também foi transmitido de pai para filho, como por
exemplo, a linhagem de Abraão, cujo chamado e vocação fora passado para Isaac e
Jacó. Alguns profetas passaram seu ofício profético para seus filhos, os reis
passavam seus tronos para seus filhos, salve algumas raras exceções.
Já na Nova Aliança, temos poucos exemplos, visto que isso
raramente deveria acontecer, à semelhança do Novo Testamento. O único exemplo
que consigo lembrar é dos irmãos de Jesus Cristo, nosso Senhor, são eles Tiago
e Judas. Tiago se tornou líder da igreja de Jerusalém e é autor da carta de
Tiago. Judas também era alguém influente na Igreja e escreveu a carta de Judas,
e embora ele não se identifique como o irmão de Jesus, ele faz menção de si
mesmo como “Eu, Judas, escravo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”. Essa
identificação é importante porque Tiago é reconhecido como líder da Igreja de
Jerusalém e irmão de Jesus. Não há outras referências bíblicas acerca desse
assunto no Novo Testamento.
Eu acredito sim que Deus pode e chama filhos de líderes
evangélicos e os vocaciona para o ofício que Deus determinar no meio do seu
povo, a igreja. E quando isso acontece é uma benção! Qual o pai e mãe, que
dedicam suas vidas ao Senhor e se esforçam por ensinar seus filhos a seguirem
seus passos nos caminhos santos do Senhor não se alegram por verem seus filhos
empenhados, servindo e sendo usados por Deus em sua obra? É algo que trás
regozijo. Esse não é o problema! O problema que tem surgido e aumentado dentro
das igrejas evangélicas é o estabelecimento de familiares e amigos próximos na
liderança e administração da igreja, cujo único propósito é a consolidação do
poder de quem a preside. E quando isso acontece, certamente o coração do pastor
ou líder da igreja evangélica que assim procede, se contaminou com a corrupção
e o amor as coisas deste mundo, como por exemplo, o dinheiro, a prosperidade e
bens materiais, a influência sobre as pessoas, o apego ao cargo, etc.
Isso tem causado muito sofrimento no meio do povo de
Deus. Pastores e líderes que assim procedem não medirão esforços para se manter
no poder, a Bíblia não será mais sua única fonte de inspiração e manual para
uma liderança piedosa no Senhor. Aceitarão subornos, perseguirão aqueles que
questionam suas ações, vão favorecer e nomear pessoas que Deus nunca chamou para
servir a Igreja ministerialmente, desprezarão e terão por ameaça àqueles que
mostram amor e qualificação para servir à Igreja, ou seja, os vocacionados vão
sofrer nesse lugar. E aqui está um dos motivos pelos quais vocacionados estão
desaparecendo e cada vez mais escassos.
Meu amado irmão, recomendo ao santo (a) que estude a
Palavra do Senhor com zelo, muita oração e vida piedosa. A igreja tem muitos
desafios, combater o nepotismo dentro dela é apenas um deles. A orientação do
apóstolo Paulo à Timóteo é valiosíssima para esse momento de tantos desafios
para a Igreja de Jesus do século XXI,
...obedeça a estas
instruções sem tomar partido nem demonstrar favoritismo. Não se apresse em
nomear um líder. Não participe dos pecados alheios. Mantenha-se puro. (1Tm
5.21-22)
A vida ministerial de Paulo
é um grande exemplo para nós, sendo ele líder e estando no meio de líderes, ele
nunca demonstrou nenhum tipo de favoritismo, ou mesmo partidarismo. Muito pelo
contrário, podemos ver isso pelo fato dele ter repreendido o apóstolo Pedro
publicamente quando este teve uma atitude reprovável (Gálatas 2.11-14). Será
que os líderes de hoje teriam tal coragem? Ou simplesmente ficariam calados e
por consequência não seriam cúmplices de tal erro? “Não! Eu corrigir ‘o pastor
presidente?’, Deus me livre!”
Se Deus te chamou e vocacionou para um ofício na Igreja,
sirva e exerça sua liderança com piedade, segundo os ensinamentos bíblicos. Não
haja com favoritismos e partidarismos, não se apresse em nomear ou consagrar
alguém, não seja conivente com erros e pecados alheios ficando calado, denuncie
e combata pecados e abusos dentro da Igreja de Cristo, aponte os falsos
profetas com seus falsos ensinos. Lembre-se, um dia todos estaremos diante do
Tribunal de Cristo, e cada um de nós daremos conta de nossas ações. Portanto,
seja fiel e zeloso em cumprir os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, nada
mais que isso. Certamente isso nos levará ao sofrimento, as perseguições, as
muitas lágrimas, às portas fechadas, a muitos nãos... Mas isso também nos
levará a estudar as Escrituras mais e mais, à uma vida de oração intensa.
Também precisamos lembrar das palavras do próprio Jesus, que disse:
Mateus 5.10-12
Felizes os perseguidos por causa da justiça, pois o reino dos céus lhes
pertence. Felizes são vocês quando, por minha causa, sofrerem zombaria e
perseguição, e quando outros, mentindo, disserem todo tipo de maldade a seu
respeito. Alegrem-se e exultem, porque uma grande recompensa os espera no céu.
E lembrem-se de que os antigos profetas foram perseguidos da mesma forma.
Ser reprovados pelos homens
e aprovados por Deus é a melhor coisa que pode acontecer para alguém que foi
chamado por Deus.
Deus te abençoe e seja
contigo.
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